Desalinho [2009]Ficção

Pedro [Vivo]

Mysen. No meio do nada, comigo mesmo como companhia, a alma que me habita ao meu lado e a música de Sigur Rós dentro de mim. Sento-me na sebe branca de madeira e a música cresce. Cresce. Cresce e sinto-a entrar na minha pele. Fecho os olhos e um arrepio imenso e interminável entra dentro de mim. Quero sair! Quero sair e correr e nunca mais parar. Quero ficar aqui e apreciar o céu azul às onze da noite. Quero voar e quero parar. Quero sair. Sinto os pelos dos meus braços eriçarem-se e sinto-me plenamente vivo. Quero sair do meu corpo e voar, e beijar, e abraçar. Quero fazer tudo o que posso num momento, quero ficar parado a sentir a VIDA lamber as minhas veias. O coração não acelera mas a mente dispersa-se. Sinto-me plenamente vivo. Como uma pequena partícula dum organismo infinitamente maior, que quer elevar-se, experenciar cada detalhe da existência fugaz e injusta a que temos direito. Quero viver! Quero chorar, sorrir, quero sentir! Estou sozinho, mas não estou sozinho. Um oceano de questões, sensações, medos e sentimentos habitam-me e quero dar atenção a cada um, amá-los, tê-los como meus e agradecer-lhes por me darem VIDA.

            Quero viver! E vivo, plenamente dentro de mim aceito tudo o que tenho para me dar, satisfeito por tudo o que sinto… Se sinto amor não sinto ódio, se sinto saudade não sinto a satisfação da presença, se sinto paz não sinto fúria. Não me interessa, quero sentir, seja o que for, quero sentir! E sinto-o. Sinto tudo, sinto a satisfação de olhar para dentro de mim, a insatisfação de não ter tudo o que quero e a satisfação de possuir o que tenho. Sinto-me plenamente vivo!

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