Estórias em Vão [2007]Ficção

VIDA de Pai-Natal

Filha da P…olícia (porque é que eu não posso dizer asneiras?), tan­to trabalho e tão pouco tempo! É assim todos os anos! Parece que quando prolongo um bocadito as férias, o trabalho duplica! Maldito Murphy e a sua lei… Realmente, mais universal que a matemática! Quando perco duas meias, nunca são do mesmo par, quando está prestes a dar um programa na Rádio Natal FM que realmente me in­teressa é quando tenho de ir por um túnel e ficar sem rede, enfim…

E agora, os putos parece que deixaram tudo para a última da hora e só começaram a mandar as cartas a partir de Outubro! Assim é difícil, como é que hei-de saber o que fazer antes, se ainda não recebi instruções? Tenho vindo a pedir ao Patrão uns meses extra de para­gem, mas ele é obstinado como uma ovelha! (ups! Desculpa aí, che­fe…). O tempo de paragem, grande cena… Acontece duas vezes por ano, uma no início de Dezembro, outra na madrugada de 24 para 25. Da primeira, O Patrãozinho pára o tempo para o mundo todo, dando-me oportunidade para viajar pelo mundo durante quatro me­ses, que correspondem a quatro segundos para o resto das pessoas. É durante este tempo que consigo entrar na pele dos pais esquecidos por esse mundo fora, e fazer com que comprem as prendas para os miúdos que se portaram bem. Hum… Ok, aqui entre nós, os que se portaram mauzito também recebem as prendas, mas não digam nada, ok? Tenho instruções para não o fazer, mas não consigo resistir, eu sei que eles não fazem por mal, eles é que não gostam daquela sopa (e por isso não comem), ou daquela tia (por isso fazem birra quando têm de ir para sua casa)…

Parece que não, mas isto demora um tempão, e o processo de transferência (quando entro nos seus espíritos) é bastante cansativo.

Depois, na madrugada de 24 para 25, vocês ficariam surpreendi­dos com a quantidade de pais que não está para se maçar acordando a meio da noite e ir pôr as prendinhas debaixo da árvore! É aí que eu entro mais uma vez. Entro nos seus espíritos e faço com que acor­dem sem se dar conta, e lá vão por as prendinhas no sítio.

E os que não têm paizinho ou maezinha? A essas, faço-as sempre crer que é algum estranho, ou alguma associação que faz as pren­das chegar até eles, não quero revelar totalmente a minha existência. Quero que tenham fé em mim, não certezas.

No final, de volta a casa. Pelo caminho dou uma olhada… A ver­dade é que tenho pedido ao Patrão uma Mãe-Natal, mas ele não vai em cantigas. Tenho de me contentar com os anõezitos que andam lá dum lado pró outro a fingir que ajudam, mas são malta porreira.

Como recompensa, tenho o sorriso que as crianças esboçam no dia a seguir. E assim é bom ser Pai-Natal…

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