– Desculpa, mas não dá mais… Gosto muito de ti, és espectacular, mas não consigo mais ter esta relação… Tudo demasiado perfeito, sem surpresas, sem nada… Ou melhor, com tudo, e sempre com tudo, nunca com “nadas” no meio que nos fazem equacionar a relação. Eu sei que este discurso não faz sentido nenhum, mas a falta de coisas que me fizessem equacionar a nossa relação fez com que eu o fizesse. E por isso, não quero mais…
Aquelas palavras caíram como uma bomba. Assim se passa quando tudo está bem, tudo está perfeito… Nem páras para pensar que algo pode realmente correr mal… Esforças-te para que tudo corra bem, e isso só faz com que corra mal? Que sentido é que tem isto? Dito isto, saiu pela minha porta, e foi-se… Ali me fiquei, na minha cozinha, com o chá à frente, a olhar para os azulejos claros, sem pensar em nada. Chegou com um sorriso triste e disse que tínhamos de falar. Propôs um chá e sentamo-nos à mesa. Passados uns minutos e alguma conversa de chacha, disparou. Vi que tentou não ser cruel ou insensível, mas o discurso em si, o que disse, atravessou-me dum lado ao outro…
Depois disso nunca mais nada foi o mesmo… As pessoas habituam-se umas às outras… Ao cheiro, ao toque, às chamadas perdidas no telemóvel, ao aroma que fica na almofada depois de dormir na nossa cama. Agora, a ideia que ele vai andar por aí, perdido de mim, sem mim, assusta-me… Imaginá-lo na cama com outra mulher dá-me um desgosto terrível… Imaginá-lo fazer-lhe tudo o que me fazia, as carícias, as brincadeiras, faz-me sentir sem valor nenhum…
O que somos nós sem uma relação forte, sem uma relação mais importante que a nossa própria VIDA? Somos pedaços descolados eternamente à procura de alguma outra coisa… Coisas sem sentido e seres sem ninho nem lar… Depois dum grande amor, poderá existir outro? Não me vou entregar a depressões ou histerias, não faz o meu estilo, mas o meu sorriso nunca mais será o mesmo… E será que pode aparecer outra pessoa que me salve desta solidão amorosa? Penso que sem duvida aparecerá alguém, mas o meu grande amor, já existiu, e já passou…