Textos

Tarfaya

Passei oito ou nove dias com o Joel, e depois disso tem sido uma viagem solitária. A minha mãe perguntou-me ontem acerca de diversão… a verdade é que diversão não é bem o termo para este tipo de viagem, parece-me. Pelo menos não por Marrocos. Do mesmo modo, se alguém me perguntasse se estava a adorar, não podia dizer que sim. Acho que é como se nos sentássemos à mesa e fôssemos obrigados a comer de tudo o que punham à nossa frente, em pequenos pratos, para caber mais variedade. Para podermos comer o leitão, primeiro tínhamos de comer um prato de farinha com sal. Depois do leitão, se queríamos comer o arroz de marisco, tínhamos de beber um copo de sumo de urtigas. E assim sucessivamente. Pelo menos para já é o que sinto. O pedalar, em si, não tem sido tão mau, mas quando comparo com a boleia percebo estas diferenças. A boleia ganha pela imprevisibilidade e fácil deslocação de lugar fixe em lugar fixe, ao passo que a bicicleta ganha pelo esforço conseguido de cada quilómetro ser nosso e por, quer queiramos quer não, conhecermos ainda mais a fundo um país.

Estou agora deitado numa daquelas peças de três pernas enormes que se usam para fazer um paredão. Conto passar o dia no café, sendo que aqui não me parece haver nada para ver, e conto tirar uma hora para olhar pela bicicleta, apesar de não me apetecer nada…

12h02, d, 16 de Março de 2014
Tarfaya, Marrocos

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