Finalmente ela aceitou vir sair comigo. Espero que já tenha ultrapassado os preconceitos todos e siga o seu coração! O pior é se o seu coração não vai em direcção ao meu. Mas isso é outra história.
Olho ao espelho, acho que estou bem, calças e blusa preta, um colar de ouro discreto. Sim, estou bonita. E ela, ela de certeza estará também, está sempre bonita. Ligo-lhe, diz que passa em minha casa primeiro com uma garrafa de vinho tinto. Tento não lhe dar a entender que não estava à espera desta proposta e adoro! Digo com uma voz calma que sim, acho uma boa ideia. Claro que mal desligo pareço uma desvairada, 100km/h a tentar arrumar tudo, pôr incenso, umas velas a arder…
Passados quinze minutos chega. Traz uma blusa com riscas vermelhas e brancas e umas calças pretas. O cabelo penteado magistralmente, um sorriso no rosto e uma garrafa na mão. A meia hora que levamos a beber a garrafa passa em menos de um trago. É assim quando estou com ela, o tempo não voa, desaparece.
– Queres ir ao Raatikellari dançar um pouco? –propõe. Já estamos um pouco embriagadas, porque o vinho foi coroado com dois shots de Salmari, a nossa típica bebida finlandesa.
– Sim, claro. – preferia ficar em casa a ver um filme, enroladinhas no sofá, mas pronto.
Quando chegamos, depois de pagar os três euros de entrada, pousar os casacos, fomos pedir uma bebida, para de seguida irmos dançar. Na pista passava música agradável, mas se não passasse seria o mesmo. Não estava muita gente, não estava pouca gente. Ficamos a dançar perto de um rapaz e duas raparigas. Elas seguramente finlandesas e ele, seguramente não. Moreno, cabelo comprido e escuro apanhado atrás, vestido com jeans e t-shirt. Italiano, português…
Dançávamos efusivamente, e algumas pessoas olhavam para nós disfarçadamente (não tanto, ou eu não perceberia…). Consigo “puxá-la” para mim e começámos a dançar mais próximas. Tento beijá-la, mas ainda não é desta. Deixo-me levar e num momento é como se estivéssemos sozinhas na pista de dança. As minhas mãos viajam pelo seu corpo como se fosse o meu próprio, entram na sua camisa, sobem um pouco e tocam uma parte de seu seio. Ai, como uma puxada à realidade, ela abranda o ritmo e baixa a minha mão, com um sorriso. É, para mim, tempo de descanso e vou um minuto ao quarto de banho.
Claro que lá fico por mais que um minuto, era só uma forma de dizer. Olho-me ao espelho, ponho um sorriso que é tudo menos falso, já que estar com ela é um elixir de felicidade (se é que isto existe) e saio. E pronto, é aqui, neste preciso momento, que a minha noite acaba. Puta que pariu, estava a correr bem demais! A música deve ter piorado, porque toda a gente saiu da pista, à excepção de um casal, que dança, ou melhor, que se esfrega no centro da mesma. Ele feio e bruto, com parte da sua mão dentro das calcas dela, e ela, a minha menina, a minha paixão, a apunhalar-me duma maneira incrível. Fico no canto a fumar um cigarro, com as mãos a tremer. Porquê?
Mando-a foder no meu pensamento e vou-me. Não a mando foder no meu pensamento literalmente, porque a foder no meu pensamento vai estar ela toda a noite com aquele cabrão! O que faço é pensar “Que se foda” e vou sentar-me para acalmar, antes que a arranque dos braços daquele troglodita.
No canto, em frente à mesa de Black Jack estão sentados a tal rapariga que parecia finlandesa, e o tal rapaz que parecia do sul da Europa. Pergunto se me posso sentar e o rapaz faz cara de envergonhado e diz que não fala finlandês. A rapariga aproxima-se e digo-lhe que tenho de me acalmar e gostaria de me sentar na cadeira que sobra. Ela acede e assim o faço. Eles continuam a falar descontraidamente e eu começo, sem querer, a soltar lágrimas. Sempre a mesma merda de fim. No final, sempre sozinha. Olho à volta, toda a gente está com alguém: namorados, amigos, conhecidos, colegas de trabalho, e eu, mais uma vez, sozinha. Vou buscar o meu casaco, não me dou ao trabalho de lhe dizer adeus e saio.
Chego a casa e deito-me no sofá sem tirar a roupa, a chorar até adormecer…