Textos

Sentimentos Inesperados

Parece que, aos trinta, ainda não me conheço muito bem. Apanhei-me a mim mesmo completamente de surpresa agora e aqui permaneço, confuso, sem saber o que se passa.

Estou em Mangata, talvez na minha última noite na Guiné, e escrevia sobre a minha chegada a Conacri quando, ao minuto um do “Miradouro de Santa Catarina” dos Madredeus, de repente paro de escrever, a minha mão esquerda vai ao meu rosto e o meu indicador e o meu polegar carregam nos cantos interiores
dos meus olhos. “Que é isto?!” pensava, enquanto aguentava a respiração e sentia os olhos a humedecerem. “Vou chorar? Mas não estou triste, não estou em êxtase, que é que se passa? Será que estou a esconder-me algo? Devo escrever sobre isto?” Apenas alguns dos pensamentos que me ocorriam ao mesmo tempo.

Não é segredo nenhum que a Música me leva a todo o lado, e esta melodia em particular é um pequeno sonho, mas não entendo esta minha reacção… Sinto esta obra, naturalmente, como absolutamente Lusa, e talvez desta vez a Música não me tenha levado a lado nenhum, mas trazido tudo a mim ao mesmo tempo, de uma forma tão forte que não aguentei. Pois realmente não estou triste, não estou a morrer de saudades. Tenho saudades comigo, claro, mas são balões de hélio que passeio, pelo que, como disse, não percebo bem isto. O que, para quem gosta de olhar para dentro e analisar, é um tanto ou quanto frustrante.

Mas não me vou deitar a pensar muito nisto. Vou deixar ficar assim. Apesar de tudo, gostei. Senti-me meio liberto, não sei porquê nem de quê.

22h44, 2ª, 26 de Maio de 2014
Mangata, Guiné

Leave a Reply

Your e-mail address will not be published. Required fields are marked *