Desalinho [2009]Ficção

Rita [Vazio]

A sedução funciona tão melhor quando não sabemos onde estamos… quando o que vemos de nós é nada mais que o reflexo dos olhares em rostos perdidos na multidão. Quando passeio, imersa em tudo o que não tenho, e busco por anónimos sorrisos, busco por partes de mim que um dia me fizeste perder.

            Carrego no meu pensamento o esforço duma expressão, que a custo sobrevive nos meus lábios, sorri dentro de mim e apaixona estranhos. Viajo pelas mentes dos transeuntes, vejo o que vêem de mim, procuro perceber porque me sinto tão perdida. Vejo o quão errada cada alma está nas ilações que retira acerca do que sou. Olho o espelho, cru, e reflecte-me pedaços de mentiras em que escolho acreditar dia após dia. Abraço as linhas e imagens que saltitam entre os olhos de quem me olha, tento concentrar-me em cada segundo, tento ser o sorriso que me devolvem.

            Perco-me nas palavras que ouço, nas poucas frases que solto. O mistério, pleno em confusão, que habilmente transmito, nada mais é que o materializar de todo o não-saber que explode no meu interior e que sai na mais estranha forma de sensualidade. Escolho, ou tento escolher, os trejeitos que me entregam, os adjectivos que me oferecem. Colo-os, um a um, no meu interior, e busco alguma identidade em frases sem sentido e nuas em verdade.

            É-me difícil este constante acto em que me encontro. Quero apenas ser eu, mas a estranheza desta estranha realidade que sinto deixa-me completamente perdida… olho a minha face e não encontro nada de mim senão o profundo olhar marcado pela tristeza da falta que alguém me faz. Da consciência que quero renegar… de que ninguém preencherá este vazio…

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