Ela apareceu aqui. Disse que queria estar comigo. Foi isso. Que queria estar comigo. Levanto-me, reparo que esteve a chorar. Está molhada, acho que está a chover.
Porque é que será que para ser feliz tenho de ser miserável? Digo a mim mesmo que não, mas sei que sim. Sei que não me contento com a felicidade. Quero sempre mais, até ao ponto de destruir tudo. E o pior é que sei que não posso ter mais, e que vou destruir tudo. Sei porque sei que, simplesmente, há momentos que não podem ser ultrapassados, de tão mágicos que são.
Ainda assim, está aqui, está comigo. Voltou para mim. De certeza que o fez porque não tem mais ninguém. Lá vou eu outra vez. Este pensamento estúpido. Porque é que não sou capaz de a aceitar ali, sem pensar muitas vezes sobre o assunto, admitir como simples e como um acto de eterna vontade em mim.
Sim, ela tem, realmente, vontade em mim. Mais que eu próprio.
Digo-lhe para entrar, tirara os sapatos. Sim eu sei, ninguém diz isto, ninguém… Mas ela volta para mim, depois de tudo o que lhe fiz e, especialmente, não fiz, e eu peço-lhe para tirar os sapatos. Ela, contudo, acede. Descalça, primeiro um, depois outro, os sapatos ensopados, que pousa ao lado do tapete, também ele molhado com os seus pingos, que escorrem pelo cabelo ruivo.
– Tu não me queres! – disparo, como se tivesse sido ela a fazer o mal.
– Quero sim, eu estou aqui! – diz ela, tentando não chorar.
– Só me queres se quiseres ser infeliz.
– Nesse caso, quero ser infeliz ao teu lado…