Textos

Português

Sou tão português que até é pecado.

Trago comigo sempre sentimentos de mar, de ar, de Vento, de correrias e nostalgias. Trago comigo todo um arco-íris de emoções que me fazem sorrir, me fazem questionar, me fazem sonhar. Levantam-me e atiram-me contra as paredes, levantam-me e puxam-me acima das nuvens, levantam-me e mostram-me toda uma linha infinita por onde passo, eu próprio um minúsculo ponto depois de tudo o que já veio e o que há de vir. Eu próprio tão insignificante como esta aragem, tão perdido como estes sons, tão rebelde como o nosso mar ou pacífico como Primaveras. Com a constância sempre a dar-me a mão e a escorregar, vou existindo e sentindo, vou ouvindo música e deixando-me levar, vou passando pelos sítios e deixando-me entregar. Vou pensando, vou sentindo por aí fora e desejo que tudo possa acontecer ao mesmo tempo, mas devagarinho, mas de força, mas de uma forma que eu não sei nem percebo. Sou todo nesta incompreensão e isso tanto me deixa derreado como feliz. Procuro perceber o que se passa e vou-me entretendo enquanto não o consigo fazer.

Hoje o céu está claro e talvez não chova nesta tenda. O fim está próximo e com ele vem um sentimento de calma, de orgulho, de paz e sentido de dever cumprido. Estou a duas viagens de chegar ao nosso Cabo e, quando penso em tudo o que aconteceu até chegar aqui, vejo-me na mais longa das epopeias, vejo-me espalhado por todos os países que conheci, pelas caridades recebidas, pelas aventuras, pelos azares. Vejo-me espalhado por todo o lado e sinto-me tão feliz! Sinto-me cheio de VIDA e cheio de sonhos e promessas. Quero prometer tudo a toda a gente, mas tenho medo da corda que assim se aperta. Quero fazer e ser tudo e quero fazer pessoas felizes e quero ser feliz. E estou feliz.

Ah, como é bom sentir que não advém a frustração de não continuar. Continuaria, claro, pois eu quero fazer tudo com este par de anos em que ocupo a existência. Quero percorrer cada estrada que aparece, mas isso não é possível. A próxima estrada leva-me de volta a casa e é para aí que quero ir. Estou tão bem aqui, agora mesmo, e estarei tão bem aí, daqui a nada.

3ª, 19h57, 21 de Julho de 2015
Piketberg, África do Sul

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