O que sou eu? O que sou eu e esta matéria que me habita? O que sou eu e estas lágrimas que nunca falam e se limitam a sorrir e acenar timidamente? O que sou eu e esta vontade escrever sem saber o que escrever?
Não sei nem faço ideia. Não sei o que sinto na maior parte das vezes. Não sei o que sinto porque tento defini-lo. Não o tento estudar e reduzir a variáveis ou merdas assim, mas tento agarrá-lo… e é tão estranho, acredita. É tão estranho porque dou por mim perante a estúpida impossibilidade de agarrar um sentimento, tê-lo e guardá-lo só para mim. Dura sempre menos que um segundo, vive sempre mais fugaz que um arrepio. Desaparece e não deixa nada a não ser saudades. Porque tem o sentimento de ser tão irmão do tempo? Porque tem o sentimento de ser nada mais que uma cópia do incopiável tempo dentro de nós? Nenhum se deixa agarrar, ambos deixam devastadoras pedras pesadas no caminho de quem as viver. Sem o tempo o sentimento não tem como existir, sem o sentimento o tempo não tem por que fazer sentido.
Ouço uma música excelente. Apetece-me rebentar em palavras, espalhar a minha alma numa virtual folha a4. O que, claro, é uma boa merda, porque nunca, por mais que eu queria, conseguirei definir um milésimo do que sou em palavras. Que caralho, pá… porque tento tanto? Parece que tento o impossível, sempre almejando alcançar a perfeição da perfeita definição dum segundo ou três, preocupando-me mais, quem sabe, com a sua preservação do que com a sua constatação. Viver é excelente. Excelente e excelentemente estranho. Que fazer?
Que fazer se estar bêbedo para mim neste momento me obriga a não largar o teclado? Bebi vinho, bebi cerveja. Bebi e tais elixires deixam, como sempre, em mim uma energia de espalhar. Nem sei bem o quê, sabes, mas quero espalhar. Batalho e penso em… mas quem sou eu para me achar digno de algo partilhar? Ganho a batalha e penso que, em princípio, todos temos algo valioso para dar. Ou será que sim? Não sei, mas gostava de saber… ui, tirem-me!!