Textos

Of a Man About to Fly

Ouvi agora, na música, “of a man about to fly”…

Estou morto por partir. Pensamos nas circunstâncias, elas vão dançando pelo ar, vão aparecendo em sonhos, vão pairando uns metros acima e vão-nos deixando esquecer aquilo que virá… relembramos esporadicamente mas com a noção de que ainda falta muito futuro. Sentamo-nos frente a um computador, prontos para começar a arranjar as coisas, e cai sobre nós a realização de que afinal vamos mesmo. Já sabíamos que íamos a algum lado, mais cedo ou mais tarde, de bicicleta, à boleia, de autocarro ou comboio. Começamos a pensar nisso e começamos a falar nisso. Mas, até mais importantemente do que quando o tempo urge, é quando nos sentamos apreparar as coisas, que o tempo se alonga de forma que parece nunca chegar.

Janeiro está ali, do outro lado da esquina. E eu estou aqui, sentado nesta mesa ao computador a tentar perceber que bicicleta levar, se levo alforges, quantos e onde, a pensar que não sei mudar um pneu nem concertar uma corrente. Janeiro está ali do outro lado da esquina mas temos todo um mundo que nos separa. Quero tanto viver no presente, e perco, ao mesmo tempo, tanto tempo à espera. Quero sentir cada dia como único, mas sinto-os mais vezes do que quero como veículo para um futuro próximo onde me vou deixar perder. Já sei a história toda… já sei que vem, e que vai num instante, e depois vou estar à espera de algo mais… Foi assim com a Universidade, o Euro 2004, o Erasmus e as viagens todas. Mas não tenho muito talento para aprender com isto, e permito-me a quase-sorridentes ânsias. E depois fico confuso. Se por um lado sinto o desconforto de querer que o amanhã se sente aqui comigo, já, por outro quero deixar-me levar por esta antecipação que me dá rosas e brindes. Dá-me, talvez, o tempo que preciso para constatar a singularidade dos momentos que vou viver…

Sofro da sina humana de achar que nunca aprecio nada o suficiente. Momentos já vivi em que me apercebi de que sentia não ter curtido aquela efemeridade ao máximo, e que por tal saber, estaria numa posição privilegiada para o fazer. Não consegui. Nunca consigo. Pois se vejo os momentos e experiências com potenciais infinitos, que farei eu que, enquanto humano, me tenho de cingir ao razoável?…

14h55, s, 19 de Outubro 2013
Portalegre, Portugal

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