Textos

O Não-Saber na Nigéria

Dia 20 de Outubro de 2014, a Nigéria é declarada livre de ébola.

Mas o consulado camaronês não tem qualquer tipo de informação em relação à abertura da fronteira. E eu para aqui ando, a começar a sentir-me meio velho. Passei estes dias a ler, escrever e ver filmes, com as minhas atenções apontadas a este dia. Mas, ontem à noite, um certo pessimismo, nem por isso comum nas minhas maneiras, assaltou-me. Habituado aos modos de agir em África nem sempre serem o epítome da eficácia, questionei se ainda demorariam vários dias, várias semanas, a abrir a fronteira. E hoje o Javi ligou ao consulado, sem nada de novo.

O não-saber, condição geralmente bem-vinda, é que me frustra mais que tudo, pois faz com que eu não saiba se vá, se fique. Posso ficar mais uma semana, perder mais tempo por aqui e depois partir de avião de qualquer maneira para os Camarões ou para a Etiópia, caso não consiga o visto dos Camarões, o que seria frustrante. Ou posso partir já amanhã e, prestes a embarcar, descobrir que a fronteira abriu, o que frustrante seria.

Hoje sinto-me como um velhote reformado que tem uma dor na anca e por isso não se pode aventurar muito longe. Como estou aqui forçado, não sinto grande vontade de fazer grande coisa, não que haja muito por explorar por aqui. Não sinto vontade de sair de Calabar nem de ver mais de Calabar, e vou ficando.

Esta viagem está partida ao meio. Arrastei-me no Benim, um país que podia atravessar num dia, vinte e cinco dias por causa do visto deste país, onde agora me encontro há quarenta e seis dias. Tive um relampejo do que fora a viagem, nas jornadas que me levaram da fronteira até aqui, mas há tanto tempo que não sinto o Vento dentro de mim. Quero mandar-me já, mas também quero ficar, para poder mandar-me da maneira que mais me agrada, pelas estradas de terra e alcatrão partido que me ligam aos Camarões. Uff, frustração.

É como se estivesse a dormir e os dias fossem um sonho muito vívido por onde vou navegando, fundindo-se uns nos outros, e o calendário avançando com a minha ignorância em relação ao meu destino sempre presente.

13h32, 2ª, 20 de Outubro de 2014
Calabar, Nigéria

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