Textos

Não me Quero Habituar a Ti

Todos os dias penso que talvez nunca tenha sentido tanto a tua falta.

Cada dia que passa mais te procuro em todo o lado. A cada dia mais longe, mas a cada segundo mais movido por este fogo que arde, ora leve, levemente, da forma que me deixa mais quente, ora forte, tão forte, que me deixa sem saber ser eu.

Esporadicamente confuso me conduzo mundo fora, seguindo as linhas da estrada, pensando de que forma me levarão a ti. O alcatrão serpenteia para sempre e, a cada curva, a Bicicleta ganha o peso das decisões de bom rumo, que talvez me atrasem mas que me dão a estabilidade para não cair.

Nunca pensei tanto no nosso futuro quanto agora.

Não quero que voes comigo tanto quanto quero que sejas o ar por onde me movo. Quero que me transportes para longe nos teus braços, que me segures forte, ora envolvendo-me completamente nos teus braços sem largar, ora esticando tudo o que existe sem me conseguires tocar.

Fecho os olhos e penso-te a dormir. Penso no colchão, nos lençóis, no gato em cima de ti. Tudo isso é paraíso, e penso se quando por aí vivo, o sei. Não sei se preciso de me arrancar de tudo para ver as coisas de visão pura.

Não quero nunca habituar-me a ti. Que medo tenho! Quero ter em mim a surpresa todos os dias de gostares de mim. Quero ter em mim todos os dias o encanto de te ver a tomar banho de bandolete azul ou de te ver a passar a ferro e dizer-te que é uma perda de tempo.

Se calhar peço demais.

Mas o que quero e o que sinto por ti é tão forte que talvez seja possível
oferecermo-nos para sempre aquilo que nos oferecemos todos os dias.

23h59, d, 27 de Abril de 2014
Dacar, Senegal

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