Textos

Medo do Nada Que Espreita

Tenho medo de morrer. Tenho medo de deixar de existir e não ter vivido tudo o que quero viver. Tenho medo de morrer, seja agora, seja daqui a cinquenta e cinco anos. Tenho medo de morrer aos poucos, dentro de mim mesmo, preso dentro de mim enquanto vou respirando cada vez mais devagar, amarelecendo meus sorrisos e deixando escapar a chama que hoje, todos os dias, me impele. Ah, como tenho medo… Tenho medo de não fazer da minha VIDA a melhor VIDA que podia ter vivido. Quero agarrar tudo ao mesmo tempo e tenho medo quando não consigo, quando contemplo as estradas todas que quero percorrer e as vejo passar, uma por uma, cada vez mais inavegáveis.

Tenho medo do nada que espreita ao virar da esquina que é a minha mortalidade. Em viagem, em VIDA, é um medo que me puxa para a frente e… que digo?… tenho medo de perder esse medo. Tenho medo de perder o medo que me faz querer ser mais, querer respirar mais, querer saltar fora da minha pele e abraçar-me a tudo e toda a gente. Confundo-me completamente vezes sem conta, entre medos e vontades. Tenho medo de me perder de mim sem saber realmente o que sou e do que me posso perder.

Tenho medo do compromisso. Não com pessoas, vontades ou circunstâncias, mas o compromisso de mim mesmo. Tenho medo de comprometer a chama que arde cá dentro todos os dias, que nem Vento nem tempestade tem apagado. Amo tudo demasiado para não ter este medo. Amo tudo e todos com uma força que me revela a fragilidade que espreita sempre, à procura do mais incauto discípulo.

Vejo-me no espelho e sei que tudo vai passar. A pele vai deixar de esticar tão bem e os cabelos esbranquiçarão. Tenho medo das minhas vontades esmorecerem e das gargalhadas cessarem. Ah, medo que me fazes senão, talvez, me mostrares porque existo e porque tenho de continuar a existir, sempre, dentro de mim?

Sim, mais do que desaparecer, para sempre, o meu medo é de, qualquer dia, desaparecer ainda caminhando pelas ruas. Gosto demasiado de tudo para que isso aconteça e, em mais um salto irracional do pensamento, embalo esse medo com cuidado, consciente que ele não é senão uma constatação das possibilidades que tenho, que temos, todos, de nos esquecermos de nós e daquilo que nos move. Não dar nada como garantido, não dar ninguém como garantido. Ter mais braços e embalar, ao lado do medo, tudo e todos que trago comigo, e não os expulsar nunca de dentro de mim. Tê-los sempre perto, ter tudo sempre à distância de um toque e, saltitando o olhar entre os seus olhos e o Medo, sorrir e seguir em frente, forte, feroz, em direcção à VIDA.

Amo.

21h53, 5ª, 25 de Setembro de 2014
Enugu, Nigéria

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