Estórias em Vão [2007]Ficção

Eu

Acordo! À minha volta a desarrumação do costume, que não inte­ressa corrigir. Levanto-me, ligo a música bem alto, fumo um cigarro. Volto a sentar-me… O primeiro cigarro do dia, fumado assim cedo, bem que me dá tonturas!

No telemóvel, três toques e duas mensagens da Ana, que vão parar imediatamente à reciclagem sem serem lidas! Cometer um erro uma vez acontece, duas vezes é humano, mas três é estúpido, não me apa­nhas mais tu… ‘Tou-me a cagar…

Vou à cozinha, ponho café a fazer e vou tomar banho. Entro na banheira ainda com o cigarro aceso que apago no cinzeiro, estrate­gicamente colocado acima do chuveiro (!) para situações como esta, que acontecem todos os dias! Enfim, que te posso dizer? É aquela rotina que eu curto tanto!

Banhinho a ouvir uma música, saio, não faço a barba, ponho de­sodorizante e vou, de toalha à cinta e a pingar o chão todo, para o quarto, onde visto quase as primeiras peças que me aparecem ao abrir as portas do armário.

Merda! O café! Quando chego já está a água a transbordar, a en­cher o fogão de café. Meto este numa chávena e deixo as limpezas para mais tarde. Quando acabo de me vestir, ponho o meu boné vermelho e vou para o jardim. Ganho pouco com o que faço, mas sou feliz! Um retrato aqui, um retrato ali, e as vezes chego aos mil e quinhentos euros por mês! Claro que é só no Verão, mas o Inverno é outra história! Aí arranja-se outra cena qualquer.

Saio de casa, headphones e cachecol, dois acessórios que não dis­penso. Sinto o Vento agradável, que condiz com a música que ouço, e vou caminhando, devagar, a curtir cada passo. Nem penso na Ana, não estou minimamente para aí virado! Se quer arrastar-se para a depressão, que se arraste sozinha! De miúdas assim está o mundo cheio! Tenho pena, ao mesmo tempo, mas ‘tou de consciência tran­quila! Sou demasiado boa gente para ela me fazer o que faz. É ou não é?

Quis o destino que de momento não tenha grandes amigos. Fo­deram-se quase todos com a droga. Eu saí a tempo e os outros foram todos por água abaixo. Ainda vejo um ou outro de vez em quando na rua, a pedir dinheiro, com um olhar vago e morto. Não dou di­nheiro porque sei para que é, mas às vezes levo um ao McDonalds. Coitados…

De qualquer maneira, amigos virão, e amor também. Não vou procurar por ele. Quando me quiser encontrar estou mesmo aqui, não saio do sítio! E sou feliz assim, leve, sem merdas, sem falsidades. Eu e eu, aberto a outros tu’s…

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