Textos

Estou Aqui

Às vezes agarrado, outras vezes despegado. Às vezes aí, com a mente por aqui, outras vezes aqui, com a mente aí. Sempre a saltitar entre estados, sonhos e as suas concretizações. Às vezes sorridente outras vezes sonhador. Por vezes clandestino e outras impossível de perder.

Sinto que, no decorrer da minha VIDA, sou um bocado de muita coisa, e sinto um bocado de muita coisa. Com a música certa sinto que os segundos que vivo são uma irrealidade do mais pura e bela com que já fui rodeado. Sem a mesma, e sem as memórias que me transmitem a agradável nostalgia, sinto que flutuo num sonho sem sentido e sem sentir. Saltito entre os estados mas quero sempre estar no estado de sentir, de me agarrar e de me concentrar em existir.

Às vezes caminho ao frio, e é isso que sinto. Que existo aqui. Que estou aqui. Olá. Que existo dentro de mim e há algo que mexe por aqui. Não durmo nestes momentos. Presencio-me e congratulo-me por conseguir ter a ilusão de que sim, afinal é possível fazer um momento durar para sempre. Não é um momento melhor que os outros por ter alguma qualidade que os outros não têm. Cada momento só precisa que lhe ofertemos a dádiva da consciência de si. Não o perder. Ninguém merece perder-se. E nós perdemo-nos, dentro de nós, quando nos damos ao luxo de perder os momentos.

Hoje pensava que há três anos tinha vinte e quatro. Lembrei-me das minhas corridas diárias depois de um dia de “trabalho” na Noruega. Como abraçava aquele frio, deixava a música misturar-se em mim e me sentia plenamente vivo. Assim me senti hoje. E ontem. E pensei. Perguntei-me se perdi algo de mim nestes últimos três anos. De vinte e quatro para vinte e sete, pode-se perder a consciência do momento? Dei um pontapé numa pedra a ouvir aquela música, e sorri. Vi a lua a ganhar coragem para se encher, e sorri por perceber que, naquilo que mais internamente me importa, não me perdi.

Há o medo, claro, que de vez em quando aparece disfarçado de ninguém em especial. O medo de que estale o diabo os dedos e a minha VIDA tenha passado por mim, e eu tenha parado de sentir, e eu tenha parado de apanhar o momento. Ou que eu tenha parado de me iludir acerca de o apanhar. Não me importo. Sei que o momento é falso amigo, e que apenas me dá a entender que é possível tê-lo para sempre. Não faz mal, eu gosto assim. Gosto de olhar para ele sem saber realmente onde está. Gosto de o procurar, ainda que, tal como a minha sombra de um sol dançante, eu nunca o consiga ver totalmente.

Assusta-me a dormência da entrega. Creio ter tantas possibilidades de entrega… mas vejo-me sempre perante duas estradas principais. A melhor dessas tem sempre faixas de acesso para a pior, que espero sempre ignorar. A pior, talvez entrando seja impossível sair. Talvez entrando no mundo do desgoverno sensitivo os caminhos se apresentem tortuosos e enganadores.

O futuro sorri. A minha VIDA é minha e eu não a vou deixar escapar. Ora aqui, ora aí, ora sonhando ou concretizando. Ora sempre, ora nunca – terei em mim a chama de saber que tudo pode ser eterno, se eu o guardar dentro de mim.

2h00, 2ª, 10 de Setembro de 2011
Erlian, China

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