Detesto que penses em mim como um erro… Especialmente porque foi um “erro” que tu quiseste cometer, que tu sabias que ias cometer. Não foi simplesmente algo que aconteceu no final de uma noite louca, com uns copos a mais. Planeaste, centímetro a centímetro, cada detalhe, sobre como levar a melhor sobre mim e conquistar-me. Não é curioso que sabias exactamente do que falar, até sabias o meu filme favorito, vê lá tu!
Estúpida fui eu, que, iludida pela tua conversa, abri-te a porta de minha casa. Falaste comigo no café. Estava com as minhas amigas, tu estavas com os teus. Conhecíamo-nos, mas não podíamos dizer que éramos amigos. Começaste a meter conversa, sobre isto, sobre aquilo, até que comecei a pensar diferente de ti. Estava farta de saber que tinhas namorada, mas mesmo assim, o que sentia era mais forte. Nesse dia deixamos um encontro marcado, próxima sexta-feira, ir ver o último filme daquele realizador de que tinhas tão bem falado. Nos dias seguintes estava com alguma ansiedade, expectante por ti, mas enganava-me a mim própria: “Não Manuela, não se passa nada, são só amigos, que se podem tornar bons amigos…” – o que é certo é que quando chegou o dia demorei quase três quartos de hora a pensar no que vestir. De vez em quando vinha-me à cabeça a imagem da tua namorada, mas depois pensava que não se iria passar nada, eu não queria e tu certamente que também não…
Vimos o filme, bastante interessante. No final fomos tomar café ao Tapas, mesmo em frente ao cinema. Estivemos lá um bom bocado, mas quando chegou por volta da uma da manhã disseste que tinhas de ir embora. Assim o fizemos, mas quando chegamos ao teu prédio perguntaste se queria subir para tomar qualquer coisa. Eu, estúpida, disse que sim, sem pensar duas vezes. Assim, quando chegamos, meteste a tocar Diana Krall, Live in Paris, e serviste-me um gin tónico. Sentaste-te ao meu lado no sofá, a conversar sobre trivialidades. Foste-te aproximando e eu, sabendo exactamente o que se passaria de seguida, não me afastava. Começaste pousando tua mão na minha perna e acabaste com a tua língua a procurar a minha por entre os meus lábios. Quando estávamos no sofá, semi-nús, perguntaste se queria ir para o quarto. Bem, nem quero pensar no que se passou depois… Usaste e abusaste de mim (e como gostei!) e de manhã pediste desculpa, mas o que se tinha passado tinha sido um erro e talvez fosse melhor não nos vermos mais… Eu, sem reacção, vesti-me e saí…