Estórias em Vão [2007]Ficção

Erro

Detesto que penses em mim como um erro… Especialmente por­que foi um “erro” que tu quiseste cometer, que tu sabias que ias cometer. Não foi simplesmente algo que aconteceu no final de uma noite louca, com uns copos a mais. Planeaste, centímetro a centíme­tro, cada detalhe, sobre como levar a melhor sobre mim e conquis­tar-me. Não é curioso que sabias exactamente do que falar, até sabias o meu filme favorito, vê lá tu!

Estúpida fui eu, que, iludida pela tua conversa, abri-te a porta de minha casa. Falaste comigo no café. Estava com as minhas amigas, tu estavas com os teus. Conhecíamo-nos, mas não podíamos dizer que éramos amigos. Começaste a meter conversa, sobre isto, sobre aquilo, até que comecei a pensar diferente de ti. Estava farta de saber que tinhas namorada, mas mesmo assim, o que sentia era mais forte. Nesse dia deixamos um encontro marcado, próxima sexta-feira, ir ver o último filme daquele realizador de que tinhas tão bem falado. Nos dias seguintes estava com alguma ansiedade, expectante por ti, mas enganava-me a mim própria: “Não Manuela, não se passa nada, são só amigos, que se podem tornar bons amigos…” – o que é certo é que quando chegou o dia demorei quase três quartos de hora a pen­sar no que vestir. De vez em quando vinha-me à cabeça a imagem da tua namorada, mas depois pensava que não se iria passar nada, eu não queria e tu certamente que também não…

Vimos o filme, bastante interessante. No final fomos tomar café ao Tapas, mesmo em frente ao cinema. Estivemos lá um bom bo­cado, mas quando chegou por volta da uma da manhã disseste que tinhas de ir embora. Assim o fizemos, mas quando chegamos ao teu prédio perguntaste se queria subir para tomar qualquer coisa. Eu, estúpida, disse que sim, sem pensar duas vezes. Assim, quando chegamos, meteste a tocar Diana Krall, Live in Paris, e serviste-me um gin tónico. Sentaste-te ao meu lado no sofá, a conversar sobre trivialidades. Foste-te aproximando e eu, sabendo exactamente o que se passaria de seguida, não me afastava. Começaste pousando tua mão na minha perna e acabaste com a tua língua a procurar a minha por entre os meus lábios. Quando estávamos no sofá, semi-nús, per­guntaste se queria ir para o quarto. Bem, nem quero pensar no que se passou depois… Usaste e abusaste de mim (e como gostei!) e de manhã pediste desculpa, mas o que se tinha passado tinha sido um erro e talvez fosse melhor não nos vermos mais… Eu, sem reacção, vesti-me e saí…

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