Estórias em Vão [2007]Ficção

A Mulher do Hospital

I

– Quem me espera?

– Nada de especial, partiu um braço mas já esta tudo bem, só tens de ajudar a vestir e dizer-lhe os cuidados que tem de ter.

– Ok.

Vou pelo corredor com a ficha do doente, lendo e procurando se tem alguns pormenores a ter em conta. João Saldanha, 26 anos. Imagino um homem novo (é da minha idade) que se aleijou caindo no passeio a caminho do trabalho. Quando dou por mim, apesar de estar quase a chegar à divisão onde se encontra, já estou com grandes ideias na cabeça, imaginando seu aspecto, teimas, etc. Faço muito isto com nomes que leio aqui e ali. E é por isso mesmo que, quando abro a porta, sinto que me enganei. Vejo sentada de lado na cama, com as pernas a balançar, uma mulher de idade talvez entre os 25-30, de pele clara, cabelo louro muito clarinho, e um olhar que me perturba entra dentro de mim.

– Desculpe, devo ter-me enganado.

Leio a ficha de novo.

Ela (não sei porquê) ri, muito divertida.

Leio a ficha de novo e preparo-me para chamar alguém quando finalmente fala. Tem a voz sedutoramente rouca.

– Não, deixe estar, sou mesmo eu. Maria João, prazer – é aqui que percebo tudo. Esboço um sorriso como quem diz “bem me parecia que era isso”, apesar de nunca me ter parecido que era isso.

– Sim, claro… Por isso estava tão divertida!… – digo, um pouco envergonhado.

– Sim, sabe, eu faço isto de propósito, sempre que posso brincar com o meu nome! Acredite, a cara que você fez, depois de ler a ficha dez vezes é impagável.

– Bem, mas o que tenho para lhe dizer é um pouco custoso.

– Hã? Como assim?

– Bem, sofreu danos talvez irreparáveis nos nervos, e é muito pos­sível que no prazo de dois dias perca, talvez para sempre, 75% das funcionalidades do braço… – a cara dela foi de um sorriso aberto, para um olhar de surpresa e tristeza. Eu estava consciente que estava a passar por cima de não sei quantos milhares de regras de ética no trabalho de um enfermeiro, mas quis alongar mais uns segundos…

– Meu Deus, e agora?…

– Desculpe, fizemos tudo o que podíamos. – não aguentei mais e rebentei a rir! Quando se apercebeu que tinha estado a gozar, uma cara de séria e chateada foi seguida de uma sonora gargalhada. Rimo-nos muito e aproximei-me um pouco.

Eis que, talvez ouvindo o barulho e querendo indagar seu signifi­cado, chega o director…

– Gonzaga, o que se passa? – o meu sangue gelou. Dizer este tipo de coisas a um paciente, até no dia 1 de Abril, constituía um violar de muito do que nos fora ensinado. Manter distância, nunca mentir, mesmo que por brincadeira, essas coisas todas…

– Desculpe, eu tinha contado uma anedota muito engraçada ao Sr. Gonzaga, e ele teve de se rir. Quer ouvir também? – assim me salvou. Havia um tom divertido e desafiador na sua voz. O chefe disse que não, e saiu.

Foi assim que a conheci…

II

– Ok, agora que voltou tudo ao normal, deixe-me dizer o que tenho a dizer. – disse, tentado ter um tom profissional.

– Meu Deus, que formal!… – o mesmo olhar de desafio mantinha-‑se. Estava a começar a seduzir-me. Olhei de novo. Pele muito clara, olhos muito azuis, um cabelo estranhamente bonito. E as pernas a brilharem, quase reflectindo a luz do sol.

Sentei-me a seu lado na cama e olhei para ela.

– Você gosta de provocar não gosta?… – disse, com um sorriso.

– Só quem vale a pena…

– Então e eu valho a pena?

– Não digo que não.

– Mas assumo que sim.

– À partida está correcto…

Fizemos uma pausa e trocamos uns olhares. Passado alguns se­gundos disse-lhe o que tinha a dizer na qualidade de enfermeiro e levantei-me.

– Bem, tenho de ir…

– Volto a vê-lo, ou tenho de partir outro braço para o fazer?

Não consegui evitar dar um rasgado sorriso. Estava a começar a ser muito difícil para mim não demonstrar que me seduzia tremen­damente.

– Valerá a pena?

– Não digo que não… 12

Escrevi o meu e-mail num pedaço de papel e entreguei-lhe, junta­mente com um piscar de olho simpático. Depois virei costas e aban­donei o quarto, consciente de que o que tinha feito não estava muito correcto, profissionalmente falando. Mas não me importava. Achava que valeria a pena…

III

“Olá. Só para dizer que terei todo o gosto em tomar café consigo no Gil Vicente na próxima sexta-feira, por volta das 22 horas. Infor­me-me se esta data for inconveniente ou se o prazer que tenho da sua companhia não for partilhado por si.”

Li este e-mail algumas vezes antes de o enviar. Estava a dar-me gozo esta formalidade, e decidi levá-la ao extremo. Sabia que ele es­tava a achar-me bastante interessante, e decidi jogar com isso. Não respondeu ao e-mail, mas sei que o fez de propósito. Como tal, deci­di ir na mesma para o local combinado. Fui vestida de uma maneira simples, mas sensual. Interessava-me, este “rapaz”… Adorava o seu jeito de sorrir, parecia-me um miúdo, puro. Bem, senti um desejo incrível de fazer amor… Fazer sexo com ele. De verdade, naquele momento em que estávamos na sala do hospital, houve um momen­to em que sorriu para mim duma maneira, que me senti quente em todo o lado. Custa-me disfarçar este desejo, mas penso que o consigo na perfeição.

Decidi não responder ao e-mail, não me esqueci. Acho que foi um acesso de “misteriosismo”, para a senhora não pensar que tem tudo sobre controlo. Esta formalidade, que primeiro se devia às cir­cunstâncias em que nos conhecemos, e se prolongou não sei porquê, agrada-me, e ao mesmo tempo deixa-me nervoso.

Estava fascinante, que bela, eu ardia de desejo por ela! Cheguei atrasado 10 minutos, de propósito, e ela chegou 15, penso que tam­bém de propósito. Sentei-me, não pedi nada, disse que esperava al­guém. Quando a vi entrar, o meu coração deu um disparo. Vinha 14

simples, mas arrasadora. Uns jeans um pouco gastos mas com classe, e uma blusa preta, com um decote que deixava os mais imaginativos voar… E o cabelo… Parecia ter sido penteado em 5 minutos, mas estava lindo! Como que nos dissesse a sua personalidade: “Olá, eu sou a João, não me interessa nada como fica o meu cabelo, desde que fique belo!”.

Deu um sorriso ao olhar para mim, fiquei nervoso. A minha auto­confiança fora abalada pela sua beleza. Seria eu bom que chegue? E bom que chegue para quê?… Sentou-se, ficamos 3 segundos a olhar um no outro, e finalmente quebrou o silêncio…

– Olá…

IV

– Então, como está? – perguntou-me. Continua nesta do “você”, ok, também não sou eu que vou ceder…

– Um pouco melhor, agora…

– Só um pouco? – ataque número um… Por ataque refiro-me àquele sorriso que me lança, enquanto brinca com os dedos, que dá uma bofetada na cara e me faz arder de desejo.

– Outras situações far-me-iam mais feliz…

– Com outras pessoas?

– Falei em situações, não em pessoas… – as “reticências verbais” estavam no ar, aquele tipo de diálogo que tem, ou não, significados por detrás.

Chega o rapaz do café, novamente. Vestido de t-shirt preta e aven­tal da mesma cor, não parece ter mais de 18 anos, e nota-se que tra­balha há pouco tempo. Mª João pede, sem me consultar, dois cafés. Não nego. Enquanto se vira para falar com o rapaz, aprecio os seus peitos. Grandes, não demais, cheios, a pedirem que lhes toque, que os cheire. E é o que desejo fazer, naquele preciso instante, sentir o seu aroma, tocar, sentir, tocar… Sinto uma vontade de a agarrar suave­mente pela nuca, entrelaçar meus dedos em seus cabelos e mergulhar em sua boca. Mas calma Luís, calma…

Falamos sobre a Festa das Latas, que está a decorrer na cidade, falamos da polémica do confronto dos estudantes com a polícia, fa­lamos de juventude, e acabamos por falar de amor.

– Mas então diga-me, a respeito disso… Era capaz de fazer sexo com uma pessoa que mal conheça? – pergunta-me.

– Bem, sim. Há momentos que se sente algo que nos faz agir es­16

pontaneamente. E espontaneamente não significa necessariamente precipitadamente. E você?

– Porque não? A VIDA realmente é curta de mais para se perder tempo com falsos puritanismos. Quando quero uma coisa agarro-a, e é assim que sou.

Gostei. Como “homem dos tempos de hoje” que sou, gostei deste discurso, porque pareceu-me ser uma pessoa livre e com carisma. Passadas cerca de duas horas saímos. Conversamos sobre um pouco de tudo, pareceu-me ser bastante inteligente, e falar com ela era um prazer para mim. O que teve de interessante a nossa conversa foi a quantidade de mensagens implícitas que pairavam no ar. Fiquei com a ideia que o desejo não era só meu…

V

Saíram do café. Luís virou um pouco à esquerda, ao passo que Mª João para a direita. Ficaram assim separados por não mais que cinco metros. Pararam, a ver a cidade acontecer. Luís estava de mãos nos bolsos, a apreciar o frio seco que se fazia sentir. Mª João, por sua vez, estava com uma mão a segurar a bolsa, e com os dedos da outra a brincar com seus lábios. Estavam calados, e ambos a ver quem ce­dia primeiro e tomava o rumo do outro. Uma estupidez talvez, mas alimentavam-se destes pequenos “conflitos” e sentiam o corpo ficar cada vez mais quente. A necessidade de olhar o outro era forte.

Eis que, quando não aguentavam mais (e não foi mais de um minuto), voltaram-se ao mesmo tempo. Olharam-se sem falar por uns segundos e Luís esboçou um sorriso, que fez Mª João arder de desejo. Adorava aquele sorriso, tinha algo de puro e inteligente, en­tenda-se… Sempre fora uma mulher que gostara de agarrar a VIDA com força, contudo, não entendia aquilo que sentia por Luís. Por ela, tirava a roupa, sentava-se nas escadas e esperava por ele, já ali.

Luís, por sua vez, esboçou esse sorriso, quando se apercebeu que agora os papéis estavam trocados. Era ele agora que tinha o controlo da situação. Consegui perceber a maneira como ela o queria, conse­guia ver pela resposta envergonhada (de Mª João, imagine-se!…) ao seu sorriso. Cedeu por segundos à presunção e pensou que poderia levá-la para casa nesse mesmo momento. Contudo estava conscien­te da beleza destes momentos, pré-conquista, chamemos-lhe assim. Esta sedução, este clima que se cria, é algo que não tem comparação com nenhum outro momento. Pior? Certamente que não. Melhor? 18

Não sabemos, com certeza que é bom. O momento em que a sen­sualidade ganha VIDA, ganha forma, quase podemos sentir. Então, cada gesto é importante e cada palavra fulcral. Tudo tem de ser estu­dado, com estratégia, como se de uma guerra se tratasse.

– Então e a senhora, tem algo em mente para fazer agora? – disse eu. Quis ter a cortesia de perguntar onde queria ir, em vez de sugerir algo.

– Bem, porque não dançar um pouco? – neste momento deu-me um ligeiro disparo de adrenalina. Que melhor campo de batalha para jogos de sedução que uma pista de dança?

– Terei todo o gosto.

E dirigimo-nos assim para o Vinyl. Fomos no seu carro, que es­tava estacionado mais perto, e porque Mª João insistiu que gostaria de me levar. No leitor de cds cantava Joss Stone… Excelente. Con­tornamos a Praça da República, subimos pela rua paralela ao Jardim da Sereia… Em menos de cinco minutos estávamos lá, o trânsito não abundava.

Saímos do carro. Trocamos dois olhares e um sorriso e entramos.

VI

Quando entramos dirigimo-nos ao local onde podemos guardar nossos casacos. Mª João estendeu-me o seu, adivinhando a delicade­za que eu teria de me oferecer para o guardar. Com seu braço bran­co e fino, estendeu-me seu casaco suavemente, mas sem olhar para mim. Eu, ao mesmo tempo que pagava ao senhor, tentava perceber qual era seu jogo. Que gozo me estava a dar aquilo. Queria prolon­gar para sempre… Eis que solta o cabelo, inclina a cabeça um pouco para trás, fazendo-o dançar lentamente, enfia seus dedos por entre as madeixas e agita calmamente. Enquanto fazia isto segurava o pedaço de madeira que usara para prender o cabelo, com seus lábios, num trejeito que a fazia ser extremamente sensual. Agora sabia que estava a ser genuína, aquela sensualidade era-lhe própria, não estava com jogos, tampouco sabia que eu a estava a admirar. Ao inclinar sua cabeça para trás, deixou-me ver também um pouco de sua barriga. Perfeita… Branca, como de resto tudo o resto, bela, firme. Adivinhei uma tatuagem junto à anca direita, mas não consegui perceber o que era. Guardou o pedaço de madeira no bolso de trás das calças.

– Estou desejosa de uns passinhos de dança, atreve-se? – pudera eu explicar a maneira como falara, e seria o poeta mais sensível e inteligen­te de sempre. Não consigo explicar a maneira como seus olhos brilha­vam, como se estivesse estado a chorar, mas sem se notar a tristeza. O seu cabelo, que dantes me deixara interessado, havia agora se declarado a mim. Queria perder-me nele, embalar-me. Amaldiçoei-me porque os papéis estavam novamente trocados. Ou melhor, estavam modi­ficados, porque agora não pensávamos sequer no desejo que o outro sentia, só nos interessava a maneira como cada um desejava o outro.20

– Como poderia dizer que não? – disse, caminhando lentamen­te em direcção à pista. Juro que não sei dizer que música tocava… Não interessava. Balançava o meu corpo da mesma maneira que ela balançava o seu. Só tinha olhos para ela, só tinha ouvidos para ela, queria ter meu corpo para ela. Estava perdido de paixão, de desejo.

A situação começava a ficar insustentável. Só me dava cada vez mais desejo ver a maneira como ele me desejava. Estava à espera de um movimento de ataque. Queria que ele me atacasse. Não queria ser eu a dar o primeiro passo, queria ser conquistada, mas tinha de lutar comigo mesma para não por em acções tudo o que sentia.

Os dois, envolvidos por todo aquele clima criado pelos mesmos, viam o tempo passar, ora depressa, quando queriam que passasse rápido para saírem dali e poderem ser livres, ora devagar, quando pensavam que adoravam aquilo que estavam a fazer, os jogos que estavam a jogar, aquilo que estavam a criar. A sensualidade ganhara nomes, ganhara forma, e passeava pelos corpos de ambos, de manei­ra suave e quase pura. Ao mesmo tempo, eram como crianças, que não sabiam o que fazer, só sabiam o que queriam fazer. Seus corpos estavam cada vez mais juntos. Luís conseguia ouvir mais facilmente o seu coração, a sua respiração, do que a música e seu ritmo. Dança­vam agora juntos, colados, sentindo o cheiro e quase o sabor dos seus corpos. Luís, com as suas mãos nas ancas de Mª João, esta balan­çando seu corpo, ao ritmo dos seus desejos, passeando seus lábios a escassos centímetros dos de Luís. Este, quase bruto, agarra-a, puxa-a para si e sente seu corpo vibrar, sorrir.

Foi este que pôs em palavras os desejos de ambos quando, chegan­do sua boca aos ouvidos de Mª João, sussurrou:

– Vamos sair daqui…

VII

Que pressa tinha, só queria sair dali, levá-la para algum lado, para sua casa, para minha, para o seu carro, não me interessava, todo eu era desejo, todo eu a queria e queria-a naquele momento. Ela, contudo, ainda se conseguia controlar (nas atitudes, não no olhar de mulher em chamas) e caminhava devagar atrás de mim, perdia seu tempo ao ir buscar sua bolsa, penteando-se. Necessitando de ar puro, fiz-lhe um sinal e sai. A noite continuava perfeita. Passados alguns segundos ela chega, e sussurra-me ao ouvido:

– Pronto?

– Sim pronto… Você?

Não responde e caminha em direcção ao carro. Sigo-a, vendo-a caminhar. Pernas altas, cinta balançando ligeiramente, suavidade na maneira e brutalidade no sentimento. Apresso o passo e acerco-me, abraçando-a pela cinta. Quando chegamos ao carro dá-me a chave para a mão e entra para o lugar do passageiro. Dou a volta ao carro e entro. Após dar um jeito no espelho e no banco arranco. Não vou nada devagar, não quero, sinto que não tenho tempo. Não lhe per­gunto onde vive, sei-o (sem ela saber que o sei) e limito-me a con­duzir. Não trocamos palavra, nada se pode dizer naquele momento, quando tudo está tão alto, tão perfeito, que qualquer palavra pode estragar tudo.

Chegamos. Desligo o carro e saio. Mª João já me espera à porta de seu prédio. Abre-ma, faço questão que entre primeiro, e dirigi­mo-nos ao elevador. Aqui a tensão eleva-se, sinto que faz um esforço 22

para não acelerar sua respiração e tento não olhar para si, tentando com que seja mais fácil resistir a agarra-la já ali. Quando chegamos abre a porta com alguma brusquidão e logo de seguida a porta de seu apartamento. Quase a perco de vista, até entrar. Curiosamente, o apartamento é exactamente o que imaginava: simples e com muito estilo. Quando entro na sala encontro-a sentada no sofá a olhar para mim, com um copo de vinho tinto na mão. Há um leve e agradável aroma no ar a incenso que imagino ser habitual, já que não tinha tido o tempo de se fazer sentir tão bem. A aparelhagem fazia-nos chegar BB King, tornando o ambiente ainda mais descontraído.

Liberto-me da camisa, ficando só com uma t-shirt no tronco e caminho vagarosamente em sua direcção. Ela olha-me com os lábios ligeiramente abertos, os olhos a chamarem-me e as mãos a apertarem um pouco a almofada do sofá. Ajoelho-me, para aproximar meus lábios dos seus. Sinto que cada vez respira mais ofegante e sinto tam­bém meu coração espalhar energia pelo resto do meu corpo, sinto-me quente, na mente e nos sentidos. Agarro-lhe a nuca com uma mão, aproximando sua boca da minha e acontece o tão desejado…

VIII

Damos um longo e apaixonado beijo. Damos oportunidade nesse momento para nossas línguas dançarem, como nos próprios havía­mos feito minutos antes. Não satisfeitas, nossas línguas dançam, bei­jam, lutam, digladiam-se pela maior prova de paixão. Com a minha mão desaperto um por um os primeiros quatro botões de sua blusa, sem nunca largar seus lábios. Meto a minha mão por dentro, agarro-‑a pela cintura fina, sinto-a minha, que me pertence. Nossos lábios descolam-se por sua vontade. Fica a olhar para mim, com a boca semi-aberta, ainda saboreando o nosso louco beijo. Toda e qualquer parte de ambos vive nos nossos cinco sentidos nesse momento. Sem largar meus olhos, acaba de desapertar sua blusa, que tira e lança para cima da mesa de vidro. Vejo uns peitos a explodir por dentro de um soutien de seda preto. Liberto-me da minha t-shirt, ficando também de tronco nu.

Mª João desliza um pouco mais no sofá, ficando deitada totalmen­te neste. Abre ligeiramente as pernas e deito-me por cima de si. Volto a beijá-la, desta feita com minha mão em seu peito, que está duro de desejo. Puxo para cima o seu soutien e vejo o mamilo, teso e desejoso que passe nele os meus lábios, os meus dentes… Assim faço, beijo-o, lambo-o, mordo-o. Mª João com suas mãos na minha cinta empur­ra-me contra si, sentindo meu sexo tocar no seu com prazer. Liberto-a do soutien e ponho-me em pé no sofá, com uma perna de cada lado de seu corpo. Lentamente tiro os jeans, ficando só de boxers. Mª João decide fazer o mesmo e tira o cinto e depois, também lentamente, tira as calças. Neste momento entro quase em alucinação. A imagem que chega aos meus olhos deixa-me em êxtase. Incrível como é bela! 24

Vê-la ali, deitada no sofá, o seu coração a bater desenfreado, o de­sejo a rebentar na sua pele, seu corpo suave e delicado pronto a ser explorado por mim em tudo o que eu quiser. Sinto-me abençoado, com sorte, como se os deuses simpatizassem comigo e me tivessem oferecido a mais bela das criaturas.

Vendo-a ali, tão acessível, volto a baixar-me e volto a beijá-la. Des­lizo minha mão desde sua cabeça até às suas cuecas. Brinco um pou­co com sua beira, ora baixando, ora subindo, até que meto minha mão por dentro. Passo ao de leve no seu clítoris, Mª João começa a gemer com mais intensidade. Suavemente, pedindo autorização com um olhar, assim o faço, entro com um dedo em si. Com este, faço-a atingir o primeiro orgasmo de muitos, esperava eu. À medida que viajava o máximo possível com meu dedo por dentro de si, lambia seus mamilos e acarinhava sua nuca. De repente, como que impelida por uma energia por mim dada, levanta-se. Agarra em mim e faz-nos trocar posições. Estou deitado no sofá de barriga para cima, ela de joelhos no chão mesmo a meu lado. Brusca e rapidamente tira-me os boxers, deixando-me completamente nu. Estou com tesão, escusado será dizer, aliás, naquele momento todo eu sou tesão, todo eu sou desejo, sentindo meu coração pulsar nas veias, à procura de descanso (que não quero dar). Beija-me os mamilos, acarinha-me a barriga com festas suaves de seus cabelos, viaja para baixo, e esconde com sua boca o meu sexo. Ora com suavidade brusca, ou uma brusqui­dão suave deixa-me quase a chegar ao orgasmo, altura em que a paro, agarrando-a gentilmente na cabeça com minhas mãos.

Levanto-me, pego-lhe pela cintura, sento-a no sofá, ficando eu de joelhos à sua frente, um pouco abaixo. Roço ao de leve a ponta de meu sexo no seu clítoris, vendo-a de olhos fechados a morder o lábio inferior e soltar leve gemido. Aproveito este momento em que não me vê para a surpreender. Com um passe de magica e descrição, quando abre os olhos tenho o preservativo já posto. Agarra-me pela nuca, olha no fundo dos meus olhos e diz-me:

– Vem… – Assim o faço, entrando com tudo o que é meu em toda a beleza que é sua. Ao início devagar, com movimentos ritmados e espaçados, que aumentam de velocidade ao fim dum minuto. A 25

partir daí, não me lembro das coisas com clareza, foi tudo demasiado intenso. Sei que rolamos no chão, fazendo sexo quase como animais, centrando todo nosso pensamento no que estávamos a sentir. Esti­vemos na mesa de jantar, primeiro sentada por cima de mim, depois ambos deitados no mármore frio que rapidamente ganhou tempera­tura. Estivemos no meio da sala, em pé, comigo sustentando o peso de ambos, ela ao meu colo balançando-se freneticamente.

Alguns minutos depois de ela ter um orgasmo cujo numero não me recordo, sinto que está próxima a minha vez. Estávamos deita­dos no meio da sala, ela por cima de mim, eu agarrando seus peitos como se nunca os quisesse largar.

– Estou quase! – digo baixinho, com os olhos cerrados. Nesta altura Mª João aumenta o ritmo, fazendo-me aproximar, até que finalmente rebento dentro de si, altura em que abranda subitamen­te, permitindo-me sentir em pleno cada músculo contraindo, cada célula saindo de mim. Depois rola para meu lado, estamos cinco minutos a olhar para o tecto e a respirar ofegantemente.

Fecho os olhos. Não me lembro de mais nada nessa noite…

IX

– Hei, não queres ir para a cama? – acordo. Vislumbro um relógio de ponteiros que me dizia serem perto das 5 e meia. De facto estava um pouco frio ali, no meio da sala, dormindo todo nu. Ao meu lado, Mª João com um olhar ensonado, com apenas uns boxers femininos no corpo levantava-se com intenções de ir para a cama, pensava eu.

Vejo-a caminhar lentamente, sempre com aquele balançar de an­cas que me seduzia, até desaparecer no corredor. Levanto-me, visto os boxers e sigo-a. Chego à cama, levanto o edredão que a cobria e deito-me também. Viro-me para o seu lado e pouso minha mão na sua cinta. Ligeiramente MJoão faz a minha mão descer pelas suas costas, aterrando nos lençóis já quentes. Tento não fazer caso e fecho os olhos. A última coisa que vi antes de adormecer foi sua cabeça pousada na almofada, ocupada quase no total pelos seus cabelos, espalhados quase de forma artística e preparada.

Abro os olhos. Talvez pela primeira vez na minha VIDA tinha conseguido dormir sem me mexer, já que tinha acordado exacta­mente na mesma posição em que adormecera (será que tinha dado mil voltas e acabado na mesma?…) Contudo meus olhos não vêem o mesmo que viam ao adormecer. Em vez, viam uma janela com cortinas azuis claras e uma frincha aberta, por entra entrava uma leve corrente de ar, que julgava ter sido a razão de meu despertar.

Penso que deve estar na cozinha, na sala, a tomar banho… Não consigo deixar de pensar naquelas imagens que Hollywood nos tra­zem da bela mulher, depois duma noite louca, na cozinha a preparar qualquer coisa com apenas uma camisa de homem vestida. Sorrio e 28

afasto o pensamento da mente, à medida que me dirijo à cozinha. Com a luz acesa e vestígios de um pequeno-almoço preparado e co­mido, encontro uma nota no meio da mesa de mármore negro.

“Bom dia. Tive de sair. Podes comer o que quiseres. Maria João.” – Fiquei um longo minuto a olhar para a nota. Parecia-me… Seca, é a palavra. Disse a mim mesmo para parar com paranóias, simplesmen­te não me quis acordar e provavelmente teve de sair à pressa. Contu­do, não sabia o que fazer… Se ficar, esperando-a, se sair… Acabo por me decidir a tomar um duche, comer qualquer coisa e ir para casa, deixando uma nota também.

Assim, passado uma hora, em que tomei com calma um longo duche, e preparei depois uma sanduíche que me soube deliciosa­mente, peguei na caneta que ainda estava na mesa ao lado do papel, virei este e escrevi nas suas costas: “Bom dia. Obrigado, roubei-te duas ou três salsichas, espero que não te importes. Também tive de ir para casa, tratar duns assuntos [menti]. Se mais logo quiseres fazer qualquer coisa, um café, um filme… Liga-me. Beijos, Luís.”

Esperando que de facto me ligasse, deixo o apartamento. Apanho um táxi e vou para casa.

X

Cheguei a casa bastante bem disposto. Dizia a mim próprio para ir com calma com o que sentia, mas nunca fui muito de ouvir a voz da razão e então permitia-me sonhar. Cheguei a sentir-me embaraça­do com o meu próprio comportamento… A verdade é que me sentia como se fosse um adolescente que tinha dado o primeiro beijo! En­fim… Via nela mesmo alguém que podia agarrar-me. Via que ainda tinha tanto para dar, e eu tinha tanto por descobrir nela… Sempre que me envolvia com alguém a magia desaparecia ao fim de uns dias, mas com Mª João não, magia era com ela, minha feiticeira…

Contudo (puta que pariu os “contudos”…), a verdade é que os próximos dias foram uma merda para mim. A alegria que sentia nes­se momento ao chegar a casa permaneceu por essa tarde, em que andei por casa, esvaneceu um pouco na noite, em que ela não ligou. A verdade é que estava a morrer para estar com ela, ao lado dela, den­tro dela, tudo relacionado com ela eu queria nesse dia. Queria estar abraçado, conversar, fazer amor, foder, dançar, tudo…

Mas tinha esta política de deixar o baralho nas mãos dela. Cha­mem-lhe inseguro, chamem-lhe o que quiserem, mas não queria ser eu neste momento a ligar, porque queria que ela fizesse nada mais nada menos que o que lhe apetecesse. Não queria ligar e fazer com que ela viesse contrafeita tomar café comigo. Eu chamo-lhe cava­lheirismo.

Todavia, após o segundo dia sem me ligar, este cavalheirismo foi traduzindo-se cada vez mais num aumento do meu número de cigar­ros por dia. Eu, que estava a reduzir cada vez mais, nesse momento estava a fumar maço e meio por dia! Estava a estranhar-me a mim 30

próprio, só pensava nela, nas razões pelas quais não me ligava. Se­ria que tinha perdido o número, será que disse algo que não devia? Que é que eu fiz? Não me conseguia concentrar no trabalho, dormia pouco e sonhava com ela, ora não tinha apetite ora comia por mais de uma hora…

“Meu Deus, estou a ficar obcecado…” – pensei. Contudo, se fosse obcecado aquilo que eu estava, estava aquilo a que talvez se possa chamar um obcecado simpático… Tinha perfeita consciência do meu estado e das suas razões, não despejava nas outras pessoas. Estava triste, simplesmente triste… E assim se passou uma semana, nenhum telefonema… Estaria ela a passar o mesmo, pensava eu… Não, claro que não, eu deixei-lhe um bilhete a dizer para me ligar, respondia-me eu.

E foi na segunda Terça-Feira que eu não aguentei mais. Vesti uma voz calma, autoconfiante e descontraída e resolvi ligar-lhe, tinha de saber o que estava a passar-se. Merecia ao menos saber em que ponto as coisas estavam…

– Estou sim?

– Estou, João, é o Luís…

XI

[pausa]

– Luís! Olá, tudo bem? – não percebo se está feliz por me ouvir, ou se sou eu que quero que esteja e então me engano.

– Sim, tudo bem. Estava aqui em casa a ler e lembrei-me de ti. Nunca mais ligaste…

– Pois não… Sabes, não tenho tido tempo, tenho tido muito tra­balho, depois ando cansada, e quando dou por mim o dia acaba.

– Ah, ok pronto. Era só para te dar um beijo e para te dizer que se te apetecer ir tomar café um dia destes, sabes que estou disponível.

– Sim eu sei. Ok então, um dia destes ligo-te. Agora tenho que ir, xau. – E desliga. Consegue fazer-me sentir pior do que aquilo que já me sentia antes de ligar. Será que esta a dar-me tampa assim como não quer a coisa? A cortar tudo logo pela raiz? Que cena, será que não consegue arranjar uma hora para tomar café comigo? Ou pior (mas melhor, porque saberia como estavam as coisas) será que não consegue arranjar coragem para me mandar à merda?

E se é mesmo verdade o que disse e não tem tido tempo? De qual­quer maneira, desliguei o telefone e fui dar uma volta. Passei em casa dum amigo e fomos ter com outros ao bar do costume. As conversas eram as mesmas, o sítio era o mesmo, parecia que tudo era o mesmo, e estava estranhamente aborrecido por estar ali. Que me apetecia fazer? Sim, claro, mas, além de estar com ela? Nada.

Até sorria de mim para mim, com a ironia das coisas. Sempre vira este ou aquele, esta ou aquela, que estava desesperado por causa de outra pessoa, arrastavam-se para níveis de inacção incríveis, e eu 32

nunca percebera como se permitiam isso, porque não batalhavam, e porque não conseguiam não pensar naquilo. Contudo, agora era eu que me aproximava a grande velocidade desse precipício, desse lado do amor. As voltas que a VIDA dá.

Tive que ir para casa nessa noite.

Assim o tempo foi passando. Continuava com o mesmo ritmo de VIDA que tinha adquirido fazia pouco tempo. Passava muito tempo em casa, horas frente ao pc, comia muito e devagar (por sorte não sou do tipo de engordar facilmente), dormia pouco, sonhava com ela, não ia à praia fazia um tempão… E ela, claro, ainda sem ligar. E eu, claro, ainda a desesperar.

Não falava com amigos. Nem sobre ela nem sobre nada. Queria estar sozinho. Porquê? Não faço a mínima ideia. Quando ouvia pes­soas que estavam nestas situações dizerem que queriam estar sozi­nhas achava uma estupidez, e que não fazia sentido nenhum. “Será masoquismo?…” – Pensava. Bem, masoquismo não é, mas também não sei que será…

Eis que uma noite, em que consegui sair de mim, observar-me e ganhar algum juízo, em diálogo comigo próprio fiz-me perceber do quão ridículo estava a ser, e que eu tinha de ser mais forte que isto. Tomei banho, um banho demorado, vesti-me, a roupa que mais gos­tava, e fui dar uma volta.

PAM!! Nestes momentos acredito no destino! Tenho de acreditar!

Estaciono o carro na Praça da República e decido ir tomar café à Associação, pelos velhos tempos de estudante. Entro, sento-me numa mesa no canto saboreando um café e quem vejo? Sim. Ao fundo, a falar sorridente e gesticulando, vejo Mª João, sentada numa mesa, um copo de cerveja nesta, e um rapaz um pouco mais novo que eu, atraente, sentado em sua frente.

Fico quente. Totalmente quente, sinto o meu sangue pulsar nas veias, se olhasse quase via estas dilatar. Sobe-me uma adrenalina que 33

não posso descrever. Sinto-me quente, muito quente. Tenho de fazer algo. Levanto-me e dirijo-me a si. Desta vez não tento mostrar uma cara disto ou daquilo, será um esforço inglório e impossível. Toco-‑lhe no ombro e Mª João roda a cabeça. Ao ver-me, a sua cara de surpresa é evidente.

Falo, calmo mas não muito sorridente.

– João, tudo bem? Estou a ver que sempre conseguiste arranjar um espaçinho entre o teu trabalho…

XII

[pausa]

– Luís, que fazes aqui?

– O mesmo que tu não faço certamente… – Neste momento le­vanta-se um pouco bruscamente, toca-me no braço como quem diz para a seguir e sai para fora. Faço um sinal de desculpa ao seu “ami­go” e saio atrás dela. Lá fora ela espera-me, bela como sempre, mas agora já não com a mesma aura com que eu a via antes…

– Qual é a tua Luís? Andas a seguir-me, é? – Dispara, de uma maneira fria e quase cruel. Não digo nada, fico a olhar para si, estu­pefacto, mas com uma cara indecifrável. Na verdade não sabia que dizer. Era óbvio que estava a trair-me. Não que tivéssemos uma re­lação e me estivesse a trair com outra pessoa, estava a trair-me no sentido em que, simplesmente, me mentira neste tempo todo.

– Primeiro, – digo calmamente – não, não te ando a seguir, ou com certeza já te teria aparecido à frente mais cedo e talvez até te sur­preender com outro amigo qualquer… – Ia começar a dizer qualquer coisa mas faço sinal para esperar – Segundo, que merda é esta? Que é que tu estas a fazer? – Aqui interrompe-me e fala:

– Que é que eu estou a fazer? Que é que tu estás a fazer? – Está irritada agora – Que direito é que pensas que tens de chegar ali com aquela cara e dizer-me aquilo?

– Ouve lá, queres falar de direitos, é? Que direito é que tu tens de me deixar assim este tempo todo, completamente pendurado, sem ter a puta da lata de me dar ao menos uma tampa, um “desaparece”, 36

um “vai pró caralho”?? Sabes o que tenho passado, cada dia à espera dum telefonema teu? Que merda é essa?… – Neste momento acal­ma-se e aproxima-se. Fala, com uma voz cuidada, e um discurso que quase parece planeado (“quantas vezes já o terá dito”, penso)…

– Engraçado… Tão aparentemente perspicaz ao início, e tão estú­pido no que realmente importa… Pensas mesmo que eu não conse­guia arranjar uma meia hora nestes dias todos? Pensas mesmo que eu não tinha estado contigo porque não tinha podido? Se pensas ainda assim, pobre de ti… O que nós tivemos foi bom, foi intenso, foi maravilhoso! E por isso mesmo, fica por aí… Nunca quis continuar algo assim… Nunca pensei em depois daquilo começar uma relação contigo, amar-nos, casar-nos, cair na estúpida rotina, vermo-nos en­velhecer… Queria que a minha última imagem de ti fosse tu nu na minha sala, belo, a dormir depois de me ter levado ao cúmulo do prazer e lembrar-te, quem sabe, para sempre! Não esta imagem que tenho agora, de um homem quase desesperado por não saber ler nas entrelinhas… Querias algo concreto não era?… Um Adeus, é concre­to não é?… Adeus Luís. – Diz baixinho, dando-me um beijo na cara e indo de seguida para dentro.

Eu fico ali, sozinho… Sento-me na beira da parede em frente à porta, a ver os estudantes passar, sem saber o que pensar… Há um buraco dentro de mim enorme. Como pude ser tão estúpido? Tol­dar-nos-á o amor a visão assim tão estupidamente? E este amor estú­pido, de onde veio? Estive com ela apenas uma meia dúzia de vezes, mas criou-se algo em mim que agora que perdi, não consigo suportar ou esquecer… Não choro, sinto em vez de lágrimas uma dor estranha e angustiante no fundo da garganta…

Ali fico por meia hora, até que me levanto e vou para casa, a pé. Chego, abro a porta e entro. Não acendo nenhuma luz e sento-me no sofá. Queria ter forças para resistir a isto tudo, mas, apesar de não compreender, houve algo em mim que se perdeu. Sinto sem o ver, que o brilho dos meus olhos que me fazia tão especial desapareceu. Quando acreditas tanto em alguém ou em alguma coisa, todas as provas de que esse alguém não existe são para ti meras coincidências 37

ou ocasionalidades. Apesar de já não ser propriamente um adoles­cente, sinto que num momento envelheço duma forma irrecuperá­vel, perco aquele brio e alegria em viver que tanto me distinguia…

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